O muro
(ou O peso)
O peso é uma proteção atraente.
Muro erguido, construído por anos, décadas de sobrevivência, tijolo a tijolo de medo.
Parece divertido brincar atrás do muro seguro.
Mas o que tem do outro lado?
Que medo de pular e me machucar!
Melhor ficar desse lado…
Mas o que tem do outro lado?
Talvez, ficar em cima do muro, dar uma espiada…
Mas o que tem do outro lado?
O muro é quente, o peso é frio. O frio me congela, paralisa. É preciso então, queimar o peso, transformá-lo, “até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó, e ao pó voltará”.
E o que vem depois?
Mais espaço, preciso de espaço, movimento, ver o que tem do lado de lá.
Mas e a proteção? Pra onde correr se não der certo?
Ainda tenho o pó, partículas que em tudo podem se transformar. Basta imaginar e esculpir. Olha que divertido brincar, fazer o novo, ser o novo.
O peso do muro já sufocava. O espaço lá dentro já era triste.
Mas o muro é lindo, é colorido. Parece fofo, feito de docinhos, difícil desapegar.
Aaaahhh, obrigada muro, por tanto me proteger. Mas agora, preciso ir, viver o que tem do lado de lá.